Apelo

7 de Março de 2010

O Santa Maria, continua infelizmente a cada dia que passa ainda mais movimentado.Os dias são atribulados para quem lá trabalha ou presta auxilio voluntário. Principalmente ás segundas feiras ,sensivelmente a partir das 10h da manhã o nosso ambulatório fica intransitavél . Nestas manhãs, a equipa de voluntárias é constituída por mim e pela Fernanda , e a verdade é que não há mãos a medir para tanta ajuda que é preciso dar. Então deixo aqui um pedido a todos aqueles que se sentem vocacionados para ajudar sem receber nada em troca, porque faz muita muita falta.Para aqueles que querem abraçar esta causa com responsabilidade têm uma porta aberta na nossa Associação dos Amigos do Hospital de Santa Maria. Garanto que não há melhor pagamento que aquele que recebos em cada dia que lá passamos.
Amanhã é segunda-feira , e lá estarei .

Dia 16 de Novembro.

Hoje, cheguei ao serviço pelas 9.30h da manhã, e já se sentia no ar que seria uma manhã agitada. E assim foi , durante toda a manhã o movimento veio sendo cada vez maior. No serviço não ha nenhum momento em que esteja parada , gosto de passar várias vezes pelos acessos ao Ambulatório para ver se ha alguém que precise de uma mão. Sinto por vezes, alguma reticencia por parte dos doentes em pedir auxilio(talvez porque as batas brancas,na maioria das vezes sao surdas) , contudo no Santa Maria já muito mudou , os doentes da"casa" como os próprios dizem ser já conhecem as voluntárias, e ainda bem.Nada substitui um obrigado vindo de alguém que o diz tão sinceramente.Com tempo, tambem vou ganhando a simpatia e espero que a confiança dos profissionais e funcionários, para mim ha um sr. especial que muito me ajuda com a sua experiência, desde já mjuito obrigada.Mesmo com tanto que fazer ,durante toda a manhã procurei por um casal muito especial...confesso que finalmente quando os vi o meu peito disparou, e as lágrimas subiram...estava anciosa para saber como estaria o sr. J(nestas situações o medo fala sempre mais alto e do meu lado não é excepção!)e pelo que vi esteve sempre muito bem disposto espero ter contribuido um bocadinho, esforçei-me por isso.Sinto-me cada vez melhor com tudo o que faço como voluntária , a cada dia que passa tudo muda ,e até a nossa responsabilidade é cada vez mais posta á prova...por hoje dei como cumprido o meu dever, sinto-me feliz pois fiz tudo o que pude e o melhor possivel...Segunda-feira que vem será um novo dia no Santa Maria e como sempre estarei inteiramente lá.

8º Concerto de Solidariedade Ass.A.Hosp.Santa Maria.

Esta sexta-feira dia 13, teve lugar mais um concerto de solidariedade no grande auditório Culturgest(Fundação Caixa Geral de Depósitos). Tive o prazer de ouvir as vozes maravilhosas de Helena Vieira e Ana Paula Russo acompanhadas de um coro juvenil encantador. Para quem nao foi aconselho vivamente .Um obrigado muito grande a estas duas profissionais da musica ,grandes referencias nacionais ,por todo o apoio .

Enquadramento legal do Voluntariado

Para os interessados,aqui fica uma informaçao legal , em Diário da Républica sobre o voluntariado.


http://www.voluntariado.pt/preview_documentos.asp?r=79&m=PDF

http://www.voluntariado.pt/preview_documentos.asp?r=43&m=PDF

http://www.voluntariado.pt/preview_documentos.asp?r=44&m=PDF

Dia 9/11/09

Antes de mais quero dizer que fiquei algum tempo sem partilhar experiências e emoções , não por desleixo, mas pelas circunstancias. No mês de Agosto e Setembro deixei de ir ao serviço, em primeiro lugar porque um voluntário também precisa de recarregar baterias e depois porque também há muito para resolver nas nossas próprias vidas.

Actualmente tenho tido uma nova experiência no Hospital Santa Maria, estou no Ambulatório (medico de especialidades) , sitio por onde passam muitos doentes diariamente. O Ambulatório é o serviço onde o doente tem acesso a todas as consultas de especialidade médica e infelizmente para muitas pessoas é regra semanal passar por lá. Á partida qualquer pessoa que chegue a este local terá a sensação de que não há muito a fazer , até porque a maioria dos debilitados estão acompanhados por familiares ou responsáveis, mas não é bem assim aliás não é de todo. Há uma imensa necessidade de acompanhamento por parte dos doentes(entenda-se que um doente poderá não ser um moribundo).É assustador entrar por corredores intermináveis onde nada nem ninguém se conhece,é assustador entrar já com uma expectativa negativa...com o pensamento de que não estamos bem e que estamos sozinhos. Um doente que ai chegue , após a sua consulta muitas das vezes é encaminhado para fazer exames, e este é um problema. O doente é na generalidade encaminhado "aos pontapés" um profissional indica por um lado o outro diz para virar á esquerda... ,e a verdade é que alguém emocionalmente debilitado não consegue mover-se em sitio desconhecido (como conseguiria num centro comercial). Sensibiliza-me profundamente a fragilidade de cada um que atravessa aquele vasto corredor, já de lágrimas nos olhos pensando o pior muitas das vezes. Hoje foi um dia especialmente duro para mim,e apercebo-me de tal verdade depois de sair do hospital quando dou por mim a reflectir.Hoje tive acima de tudo o privilégio de acompanhar um casal que me emocionou,me tocou especialmente. Dói muito ver e poder sentir o sofrimento de uma sra. que vê aos poucos partir ,talvez o amor de toda a sua vida...Mas dói ainda mais ver a falta de sensibilidade de algumas pessoas que dizem querer ajudar. Ninguém imagina o quanto queria falar promonorizadamente , sinto-me indignada e até desiludida.Contudo nem todos estão perdidos, e desde já obrigada O. Hoje senti como nunca que faz todo o sentido o trabalho de um voluntário. Lá continuarei , com toda a dedicação e amor.Aprendo todos os dias um pouco mais daquilo que sou e que valho , ao dar tanto de mim a quem muito precisa , esta é uma acçao, uma opçao, um gosto , um sentir , que deve de VIR de NÓS , e nunca deverá ser feito POR NÓS PELO NOSSO EU mas sim para quem estende a mão.

Uma Nota : A Associação dos Amigos do Hospital Santa Maria nunca pára , está sempre a pedir voluntários ,e claro a dar formação a quem sinta que quer e pode ajudar, somos um grupo inigualável e esperamos por todos pois serão muito bem vindos.

Óscar

O Óscar é um menino, uma personagem de um livro único , que desde já digo é mais que uma personagem para todos que tenham o prazer desta leitura. O Óscar tem 11 anos e esta muito doente á beira da morte...Ao mesmo tempo que o cansaço o acompanha também a raiva toma conta dele, pois todos (menos uma pessoa) passam a tratá-lo como se ele tivesse culpa de estar muito doente(é isto que uma criança sente quando os adultos que a rodeiam sofrem , e deixam de falar com ela mentindo á cerca da sua vida ,ou melhor da sua morte). Este menino é "embalado " por uma sra(voluntária) a Vovó-Rosa nos seus últimos 12 dias. A Vovó-Rosa é a única que no meio de uma tristeza disfarçada de alegria faz com que Óscar encare o seu destino de maneira tranquila. Graças á magia desta sra. Óscar morre com a ideia de que tem 110 anos, que foi muito feliz e que a vida fez todo o sentido. É uma lição , não de vida mas de morte...E a realidade é esta, nem todos nós vivemos esta angustia de forma penosa há quem a saiba levar de forma certa...com AMOR que é tudo o que somos , queremos e temos.

Dia 2 de Julho

Hoje, foi o dia mais triste que tive no serviço. Cheguei ao 12.30h , e antes de lá chegar logo vi que não estava bem, e quando lá cheguei tive a confirmação. Para (des)ajudar a enfermaria estava imensamente calma, o silêncio doía,e pela primeira vez nem sabia o que dizer ás duas pessoas que estavam em condições de falar. Dei o almoço aos doentes, e passados poucos minutos estava na hora da higiene, medicação etc...Aqui então a minha utilidade desapareceu e fui embora ,triste e com vontade de chorar,senti que não tinha feito nada, e mais remorsos tive quando cheguei á associação(sim tive necessidade de ir á associação, precisava de desabafar )e vi que tinha largado o serviço duas horas antes! Esperei hora e meia pelo meu anjo da guarda ( a minha querida coordenadora)que estava em reunião com uma doutora a tratar de coisas importantes. Tive mesmo necessidade de esperar...e no meio do desabafo foi por pouco que não chorei como os pequeninos ao colo da mãe. Este dia foi o pior, achei que foi minha culpa mas depois percebi que não. Não pensem que conseguimos dar amor sem estarmos nós próprios bem, não há ninguém que o consiga ,porque ai estamos demasiadamente ocupados a pensar em nós!Para completar o dia mau, ainda tive noticias tristes de doentes que passaram por ali...Resta-me guardar a bonita lembrança que tenho deles.Melhores dias virão e como sempre vontade não me falta de lá estar...muito menos amor.